O líder da UNITA, querendo dar uma prova de vida, apelou hoje aos cidadãos a aderirem ao registo eleitoral, que arranca quinta-feira em todo o país, para as eleições gerais de 2017. Onde tem andado Isaías Samakuva nos últimos meses?
Por Orlando Castro
Isaías Samakuva convocou hoje a imprensa para fazer o apelo, reiterando, contudo, as suspeições sobre o processo que o seu partido já vem reclamando há algum tempo. Ou seja, a UNITA não acredita na transparência do processo, e tem razões para isso, mas alinha na farsa.
Tem sido assim desde 2002 quando trocou a mandioca pela lagosta. E como o MPLA sabe bem disso, continua a premiar os figurantes da política angolana com lagostas atrás de lagostas. E como a Oposição sabe bem disso, continua a fingir que faz oposição para não perder as… lagostas.
Segundo o líder da UNITA, são muitas as pessoas que contactam o partido a pedir que não participem no processo de registo eleitoral oficioso e outras que querem saber a posição daquela força política sobre o mesmo.
Na sua intervenção, Isaías Samakuva apresentou algumas razões por que defende a participação de todos neste processo, sendo a primeira que é importante o registo eleitoral para que haja mudança.
Ledo engano. O registo eleitoral não é condição “sina qua non” para haver mudanças. Pelo contrário. No nosso país nem sequer votar na Oposição significa mudança. Desde logo porque os votos dados aos partidos da Oposição só vão para a Oposição se o MPLA quiser.
A UNITA sabe disso. Convém, contudo, alinhar com o MPLA. Vai, mais uma vez, sofrer uma clamorosa derrota. Poderá, no entanto, escrever no seu epitáfio: Fomos uns honrados derrotados.
Para Isaías Samakuva, devem participar todos os que “pretendem uma Angola melhor do que a actual”. Dizer tal coisa quando os angolanos esperavam que a UNITA estivesse nas ruas, lutasse democraticamente ao lado dos activistas, estivesse permanentemente juntos dos desalojados, é passar um atestado de menoridade aos angolanos. E estes, assim, gostam de ouvir o líder da UNITA e nas próximas eleições vão votar no… MPLA.
“Todos os que pretendem acabar com a crise e construir a esperança para a juventude devem-se registar para votar. Todos os que pretendem melhorar a educação, a saúde e acabar com as desigualdades devem se registar para votar”, referiu.
Em que país vive Isaías Samakuva? A UNITA quer, tanto quanto parece, transformar numa espécie mais moderna mas igualmente anacrónica de FNLA. Bem que os restos mortais de Jonas Savimbi devem andar às voltas no túmulo…
A segunda razão apontada tem a ver, segundo Samakuva, com o receio de que “o governo quer controlar um processo que não lhe pertence”, ocupando-se do registo eleitoral, quando a Constituição angolana atribui esta tarefa à Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
Malária ou bitacaia?
Essa já não pega. Por outras palavras. A UNITA diagnostica com alguma precisão, reconheça-se, a enfermidade do doente com malária. Mas quando toca a ministrar a medicação… fecha os olhos e especta a injecção no doente ao lado que ali está a tratar uma bitacaia.
“O Governo vem agora dizer que o registo eleitoral não é parte do processo eleitoral. Isso não faz sentido nenhum. Porque é que o Governo quer usurpar as competências da administração eleitoral independente”, questionou Samakuva, reafirmando uma reclamação antiga.
Chamar os jornalistas para lhes dizer o que eles já sabem, chamá-los para que o MPLA saiba que a UNITA assim pensa, é gozar com a chipala do pessoal. O regime está-se nas tintas para a UNITA e, como acontece crescentemente desde 2002, os angolanos também. É que o Galo Negro só fala. Não age, apenas (e quando o rei faz anos) reage.
Entre as várias razões apresentadas, a UNITA acusa ainda o MPLA, partido no poder, de querer anular o registo já feito de 9,8 milhões de cidadãos, com a realização de registo eleitoral oficioso, mas que pede a presença desses cidadãos para a prova de vida.
Isaías Samakuva disse “o termo oficioso é só para enganar”, justificando que “ninguém faz prova de vida se não estiver fisicamente presente”.
“Mais de 80% da lei (Lei do Registo Eleitoral Oficioso) regula o registo eleitoral presencial. E esta competência é da CNE. Portanto, somos obrigados a perguntar de novo, porque é que o Governo quer ser ele a conduzir este trabalho? A única conclusão que tiramos é mais uma vez que o Governo não está de boa-fé e que a prova de vida é um artifício”, frisou.
Lagosta e umbigo untado
Estas teses de Samakuva, apesar de correctas, são ineficazes. Os angolanos continuam sem saber se qualquer reflexão que ultrapasse o círculo de bajuladores de Isaías Samakuva (é tal e qual o que se passa com Eduardo dos Santos) serve para acordar aqueles que sobrevivem com mandioca ou, pelo contrário, apenas se destinam a untar o umbigo dos que se banqueteiam com lagostas em Luanda.
Perante os sucessivos desastres eleitorais (e no próximo será pior), Isaías Samakuva continua a querer ir de derrota em derrota até à…. derrota final. Limita-se a posições cosméticas para tudo ficar na mesma. Não percebeu, afinal, que a UNITA enquanto principal partido da Oposição está em cima de um tapete rolante que anda para trás. Por isso limita-se a andar. E, é claro, fica com a sensação de estar a ganhar terreno mas, no final de contas, está sempre no mesmo sítio.
Isaías Samakuva é o líder que os militantes querem. Não é de crer que seja a alternativa que os angolanos gostavam de ter. Longe disso. Ao contrário de Jonas Savimbi que, mesmo errando muitas vezes, agia, Samakuva limita-se a reagir. Em vez de entender a mensagem, manda “abater” o mensageiro.
Ninguém melhor do que Samakuva para saber se a UNITA vai conseguir viver sem comer. UNITA no sentido dos homens e mulheres que tinham orgulho no Galo Negro que transportavam no peito. Um dia destes, talvez já em 2017, o MPLA virá dizer, com uma lágrima no canto do olho (sorridente) que exactamente quando estava mesmo, mesmo quase a saber viver sem comer, a UNITA morreu.
A UNITA, e nisto é igual ao MPLA, prefere ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é… não há memória que a salve, nem mesmo a do Mais Velho.
Perder batalhas e a guerra
Depois de perdidas (embora com muita batota) as batalha eleitorais, a UNITA escolheu os seus “generais”. Fê-lo, mais uma vez, sem ouvir o Povo e limitando-se a olhar para o umbigo.
Se Jonas Savimbi fosse vivo, grande parte destes “generais” não passava de “cabos”. “Cabos” que, recorde-se, passarem a generais nas FAA e o ajudaram a matar.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e assim nunca verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala, Samuel Chiwale Jeremias Kalandula Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces e Elias Salupeto Pena.
Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? Perguntam muitos angolanos das gerações mais velhas. Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.
Será que a UNITA não enterrou, depois da morte de Savimbi, o espírito que deu corpo ao que se decidiu no Muangai em 13 de Março de 1966?
Foi do Muangai que saíram pilares como a luta pela liberdade e independência total da Pátria; Democracia assegurada pelo voto do povo através dos partidos; Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre os interesses dos angolanos.
Foi de lá que também saíram teses sobre a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; liberdade, democracia, justiça social, solidariedade e ética na condução da política.
Alguém, na UNITA, se lembra hoje de quem disse: ”Eu assumo esta responsabilidade e quando chegar a hora da morte, não sou eu que vou dizer não sabia, estou preparado”?